Crise faz disparar furtos
O índice de roubos no retalho sofreu uma reviravolta no ano passado. A crise está a contribuir para o “aumento exponencial” de furtos em estabelecimentos comerciais e de serviços, revela a CCP
Rita Gonçalves
Mercadona abre supermercado em Leiria
MO reabre loja remodelada em Sintra
Estudo Benchmarking Supply Chain da GS1 sinaliza necessidade de maior colaboração e foco na digitalização
Portfolio Vinhos com a representação exclusiva do produtor espanhol Marqués de Riscal
Grupo os Mosqueteiros reforça apoio aos bombeiros
Centros comerciais Alegro distinguidos com o selo Superbrands 2024
InPost supera os 11 mil pontos pack e lockers em Portugal e Espanha
Grupo Paulo Duarte investe 1,1 milhões de euros na aquisição de seis veículos autobetoneiras
CVR Lisboa confirma vindimas com quebras acima das previsões mas vendas batem recordes absolutos
Mira Maia Shopping com novas aberturas e remodelações no último quadrimestre
Os furtos de produtos nas lojas é uma das principais dores de cabeça dos retalhistas. O investimento em tecnologia e equipamentos anti-furto por parte dos lojistas tem permitido, desde 2004, diminuir o impacto dos roubos nas receitas das empresas de retalho mas no ano passado o índice das quebras sofreu uma reviravolta.
Os dados mais recentes sobre o nosso País dizem respeito ao período de Julho de 2010 a Junho de 2011. Segundo o Barómetro Global de Furto no Retalho, as quebras desconhecidas, que inclui o furto em lojas, por empregados e clientes, a fraude com origem nos fornecedores e os erros administrativos, aumentaram 7,3% no nosso País e custaram aos retalhistas nacionais 372 milhões de euros, ou seja 1,33% das vendas acumuladas do sector.
“O furto por parte de clientes, que inclui o pequeno furto mas também o furto organizado, continua a ser a principal causa da perda desconhecida em Portugal, com uma ligeira subida, ao atingir um índice de 48,9%”, revela ao Hipersuper Iván Baquero, director comercial para Espanha e Portugal da Checkpoint Systems.
A crise e os roubos
“O aumento da quebra desconhecida está certamente relacionado com a crescente degradação das condições de trabalho, o desemprego, a perda do poder de compra e consequente degradação social. Existe uma cultura instalada e tendente de pagar salários baixos que em consequência criam dificuldades nos orçamentos familiares e motivam o pequeno furto para compensar a cada vez menor capacidade financeira das famílias”, defende, por sua vez, António Bicho, director comercial da Maxicofre.
A relação entre o aumento dos roubos no retalho e a crise não é estabelecida apenas pelos empresários. A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), em carta recentemente dirigida à ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, afirma que o cenário de crise que se vive em portugal “tem traduzido um aumento exponencial de furtos em estabelecimentos comerciais e de serviços” (ver caixa).
Os funcionários das empresas ocupam a segunda posição da lista de responsabilidade em matéria de perda desconhecida. “O furto interno, proveniente dos empregados representa uma taxa de 28,4%, os erros internos 16,2% e os fornecedores 6,5%”, revela o director comercial da Checkpoint.
Apesar de o furto estar a crescer nas lojas portuguesas, Nuno Figueiredo, sales manager da UTC Fire&Security, ressalva que Portugal continua a ser um dos países “com índices de perda desconhecida mais baixa da Europa, evidenciando algum esforço dos retalhistas, a operar no mercado nacional, no investimento em sistemas de prevenção e na elaboração de estratégias de dissuasão”.
O director comercial da Maxicofre, por outro lado, defende que os “empresários portugueses, graças a modelos de gestão economicistas, têm sido pouco sensíveis a esta temática e desinvestiram em soluções para mitigar este problema”.
Os produtos de elevado valor económico e de pequena dimensão costumavam ser os preferidos dos larápios. Produtos de barbear, perfumes, roupa e acessórios, são alguns exemplos. Mas, a lista de artigos de artigos mais susceptíveis de roubo está a aumentar. “Tendencialmente roubam-se artigos de luxo e tecnológicos e observa-se agora alguma evolução para os bens de primeira necessidade. Embora de baixo custo, são a única forma de uma franja de consumidores, infelizmente, cada vez maior, fazer face às necessidades de primeira instância”, revela António Bicho.
A redução do lucro é uma das principais consequências do aumento da quebra desconhecida. “Uma redução de 1% na retracção significa praticamente um aumento de 1% nos lucros da empresa”.
Embora o aumento dos roubos tenha ainda impacto no ambiente da empresa, como explica o sales manager da UTC. “O aumento da quebra é gerador de mau ambiente interno e externo, dado que 35% dos desvios são internos e as medidas a adoptar podem gerar mal-estar em termos de gestão de recursos humanos. Por outro lado, o clima de suspeição levado ao extremo pode criar conflitos com os clientes”.
O investimento dos retalhistas em soluções anti-furto cifrou-se em 98 milhões de euros entre Julho de 2010 a Junho de 2011, segundo Barómetro Global de Furto no Retalho. “Em Portugal, os crimes de custos com o retalho atingiram 410 milhões de euros, dos quais 312 milhões correspondem a crimes por furto e 98 milhões ao investimento efectuado em soluções anti-furto”, lembra Iván Baquero.
De acordo com Nuno Figueiredo, apesar de não ser conhecida a evolução do investimento em tecnologia para combater a quebra desconhecida, é provável que tenha diminuido, dado que “o investimento baixou em termos gerais em Portugal em todas as indústrias. Não nos supreende que o mesmo tenha sucedido nesta área e que algumas das opções tomadas tenham sido implementadas baseadas ‘no mal menor’ em detrimento da eficácia”.
O Futuro
Os empresários ouvidos pelo Hipersuper não têm dúvidas: a crise económica tenderá a agravar os furtos. “Face à condição económica, presume-se que a quebra se venha a acentuar, eventualmente, nos produtos de maior valor comercial e nos bens alimentares”, sublinha o responsável da UTC.
Por sua vez, o director comercial da Checkpoint, prevê que, devido à situação económica em Portugal, “os retalhistas invistam de forma mais eficaz em soluções que possam capitalizar rapidamente o investimento, concentrando-se em proteger acessórios com valor mais elevado e com elevado risco de roubo. Os retalhistas deparam-se com um tipo de roubo mais sofisticado, tanto a nível do furto por impulso como no crime organizado. Por isso, tendem a proteger-se com as últimas tecnologias, como detectores de metais e sistemas anti-furto que forneçam informações para uma boa gestão da quebra”.
A procura de dados e informação para aumentar o conhecimento, a aposta na formação dos recursos humanos e na inovação, assim como o investimento em políticas integradas e coordenadas de segurança, são, segundo Nuno Figueiredo, os principais desafios que os retalhistas enfrentam para fazer face à quebra desconhecida.
Para António Bicho, um dos principais desafios é fazer chegar a modernização dos sistemas de segurança e prevenção a todos os operadores do comércio tradicional. “Existe um segmento económico mais tradicional e de proximidade com algum atraso mas que já entendeu que para sobreviver é imperativo acompanhar o ritmo da concorrência e adoptar as mesmas medidas e processos”.