Indústria do tomate em risco de extinção, diz associação do sector
Este cenário “é mais do que um perigo real, é praticamente uma inevitabilidade, face à desproporção de forças entre o mercado industrial da Califórnia e o português”, revela Miguel Cambezes, Secretário-Geral da AIT
Rita Gonçalves
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“Se o sector industrial de tomate na Europa não for protegido no âmbito das negociações da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA), a consequência para o tomate de indústria em Portugal pode ser o desaparecimento”, revela um comunicado da Associação dos Industriais de Tomate (AIT).
Para Miguel Cambezes, Secretário-Geral da Associação, este cenário “é mais do que um perigo real, é praticamente uma inevitabilidade, face à desproporção de forças entre o gigantesco mercado industrial de tomate da Califórnia e o português”.
Numa altura em que decorre, até à próxima sexta-feira, em Bruxelas, a quarta ronda negocial entre a UE e os EUA no âmbito da procura deste acordo comercial, a AIT lembra que, as especificidades deste sector em particular, levam a que a eventual abolição de protecções tarifárias à importação de produtos transformados de tomate beneficiaria muito mais os EUA do que a Europa. “Sendo que Portugal sairia completamente derrotado deste processo, apesar de ter a maior produtividade média da Europa e a terceira mais elevada do mundo e de ser o quarto maior exportador a nível mundial, com 95% da produção a ser vendida em mercados externos, o que equivale a mais de 250 milhões de euros em exportações”.
A Associação acrescenta que, desde logo, os custos de produção no sector industrial do tomate são bem diferentes dos dois lados do Atlântico, “com vantagem clara para a Califórnia. O principal factor de custos é a matéria-prima e representa mais de 50% cento na estrutura de custos da transformação. Nos EUA, estes custos são cerca de 20% mais baixos do que em Portugal, por exemplo”.
Segue-se o custo da energia, como o segundo mais significativo. “Acresce que a política energética europeia, em geral, e a nacional em particular, contribui para elevar bastante os nossos custos face à realidade norte-americana, o que penaliza significativamente a competitividade da fileira de tomate nacional”.
Assim, “enquanto estas situações não se harmonizarem em ambos os lados do Atlântico, os produtos transformados de tomate devem ser considerados como ‘sensíveis’ no âmbito desta negociação e, consequentemente, continuarem a beneficiar de protecções tarifárias. Nesta altura, os direitos de importação em causa são, respectivamente, de 14% no caso das importações na UE e de 12% no caso das importações dos EUA”.
Em 2012, o volume das importações de concentrado de tomate na UE com origem nos EUA foi de 74,4 mil toneladas, ou seja, 21,3% do total do volume das exportações deste produto pelos norte-americanos. Nesse mesmo ano, o volume das importações de concentrado de tomate nos EUA com origem na UE foi de 3,9 mil toneladas, 38,5% do volume total das importações deste produto pelos EUA. Os norte-americanos exportaram, nesse ano, cerca de 19 vezes mais concentrado para a UE do que importaram.