Suinicultores protestam contra rotulagem do Pingo Doce
O porta-voz dos suinicultores refuta declarações do fundador da Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce, Alexandre Soares dos Santos, segundo as quais a produção nacional não tem capacidade para satisfazer as necessidades do grupo
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Dezenas de suinicultores portugueses concentraram-se neste domingo em Santarém numa ação de protesto contra a forma como o Pingo Doce continua a fazer a rotulagem da carne de porco.
João Correia, porta-voz do “gabinete de crise” criado no início de dezembro para sensibilizar a opinião pública para a deficiente rotulagem e para apelar ao consumo da carne de porco nacional, acusou, em declarações à Lusa, a cadeia Pingo Doce de “continuar a fazer uma interpretação muito própria da lei”, ao insistir em não cumprir o estipulado na legislação nacional desde abril de 2015.
Os suinicultores dizem ter detetado uma “operação de cosmética” que consistiu na colocação de autocolantes com a bandeira nacional nas embalagens de carne de porco nas lojas existentes na zona.
Acusando o Pingo Doce de, ao ter tido conhecimento desta ação, ter realizado uma “ação de charme ou de cosmética”, colocando “pó de arroz” em “95% das cuvetes” – uma delas “de entrecosto espanhol” -, João Correia reafirmou que o que os suinicultores querem é que a carne “esteja devidamente identificada” e que a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) faça o seu trabalho “como deve ser”, segundo a mesma fonte.
Num comunicado a que a Lusa teve acesso, o Pingo Doce afirma que “cumpre integralmente a lei em vigor, nesta e em todas as matérias de rotulagem, quer estas se refiram a carne quer a outros produtos”.
O grupo indica que na carne embalada na própria loja pelos profissionais de talho “a presença do país de origem entre os elementos de informação do rótulo não é legalmente exigível”, mas que “toda a informação relativa à criação, abate e desmancha dos animais existe” nas lojas e pode ser solicitada pelos consumidores.
O porta-voz dos suinicultores refutou ainda declarações do fundador da Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce, Alexandre Soares dos Santos, segundo as quais a produção nacional não tem capacidade para satisfazer as necessidades do grupo.
João Correia afirmou que os suinicultores portugueses produzem 65 mil porcos para abater por semana e que o Pingo Doce consome 12500 por semana, dos quais só 3500 são nacionais, acusando o grupo de olhar a produção nacional “com altivez” e como se fosse “dono disto tudo”.
No comunicado enviado à Lusa, o Pingo Doce afirma que compra, “semanalmente e em média, o equivalente a cerca de 12 mil porcos à indústria nacional” (já que não possui uma central de desmancha de carne e não negoceia diretamente com a produção), e que, “adicionalmente, importa partes que a indústria nacional não consegue garantir em quantidade suficiente para abastecer as 400 lojas” da cadeia.
“Claramente temos capacidade para garantir [as necessidades do grupo], não podemos é entregar ao preço que o Pingo Doce quer”, disse João Correia, lendo um email de 2008 da direção de compras do grupo, alegadamente a impor aos industriais o preço pago à produção.